“Mas é que se agora
Pra fazer sucesso
Pra vender disco
De protesto
Todo mundo tem
Que reclamar” (Raul Seixas)
Seria o teatro de protesto um filho ranzinza da arte cênica? Um ingrato malcriado e que nunca se dá por satisfeito? Seria aquele chato que implica com tudo e todos somente para ter o prazer de falar mal? Ou mais, seria o teatro de protesto apenas um pretexto para fazer política panfletária? Lamento profundamente contrariar, mas não creio em nenhuma desses posicionamentos do teatro de protesto. Mas uma coisa é certa, a pergunta se perpetua. Então, o que é de fato o teatro de protesto?
Bom, se ousar em definir que gênero teatral é esse, certamente sofrerei represálias, vaias, hostilidades e pior, piadas cruéis e sórdidas sobre tudo o que for dito. Então, recolho-me à minha insignificância e volto ao cantor acima citado parafraseando outro trecho da sua música para explicar como me colocarei diante a escrita para tentar responder essa questão e não me perder no labirinto de perguntas sem respostas.
“Sair pela tangente escapando de uma possível estupidez” é o modo mais viável que encontro para falar dessas peças teatrais. Acredito que para explicar um pouco como tudo começou temos que ir à sua origem.
O teatro de protesto é aquele grita para todos ouvirem, que incomoda com a famigerada gargalhada motivada por uma piadinha ríspida e dura de algum personagem da vida ou mesmo da própria condição humana. Nele o pudor é não perder o humor, a ética é escrachar ou mesmo esculachar sem peso na consciência. O importante é desopilar o fígado e esfolar com o moralista social.
Foi desse modo que surgiu o teatro político na Grécia, sorrateiro, silencioso, velado por risos tímidos e, sobretudo, por ouvidos e olhos de curiosos que queriam entender com aquelas piadas o que aquilo significava. Freqüentavam a Ágora grega (praça pública), somente aqueles que eram considerados cidadãos. Tinha ingresso para as peças somente aqueles que por ela podiam trafegar e freqüentar. Porém, as vozes, as peças, os personagens ultrapassavam os limites da praça e iam até onde o povo, que não podiam apreciar o teatro, estava ou freqüentava.
Se colocando sempre à margem do discurso oficial, subvertendo a ordem da oratória e da retórica emanada nas praças públicas, o teatro de protesto queria levar questões para o povo pensar ou mesmo provocar, incomodar, perturbar e questionar .
Assim, rir, gargalhar, apontar o dedo na “cara”, tripudiar, repudiar, somente tem limites para quem não acha graça. Não gostavam das peças ou dos personagens com suas agudas doses satíricas, geralmente aqueles que se sentiam ofendidos moralmente. Contudo, ofender nunca foi a pretensão desse gênero teatral, mas certamente foi o de dar voz àqueles que não podiam falar, foi de provocar a reflexão da condição humana, do homem em seu tempo, dos seus juízos de valores, dos seus costumes, do seu cotidiano e da sua cultura.
Caso você seja uma daqueles que tem em sua alma o olhar crítico, que não aceita tudo o que te falam. Proteste! Pois esse é o verdadeiro pretexto do teatro de protesto. Protesto!
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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